...e hoje vou dar uma pausa na pausa deste blog.
Por causa da Barra Funda e do Minhocão.
Da Praça Marechal Deodoro e da Avenida Angélica.
Da Ipiranga com a São João e aquela tensão que faz esconder a carteira e agarrar mais forte a mochila, que faz a gente olhar mais atentamente para todos os lados.
Por causa da Galeria do Rock, e suas camisetas de bandas, seus moicanos e cabeludos.
Por causa do Mosteiro de São Bento, um pedaço do Céu, ali, do lado do Metrô.
Por causa da Consolação, na subida ou na descida. Parada, é claro.
Por causa das cantinas do Bixiga, ma che bellas!
Por causa da Paulista, A Avenida.
E a saudade do Riviera? A Feira Doce, na Praça da República? O Cine Belas Artes?
Estão lá, em algum lugar, suspensos no tempo.
Assim como o cheiro do piso de borracha da Estação Sé. Sentado, esperando mais um e mais um e mais um trem, no horário de pico, em que fosse possível entrar.
Túnel da Rebouças e seus mil grafittis.
Beco do Batman e seus mil milhões de grafittis.
E os sebos? Livros, revistas, gibis, LPs, posters, CDs...haja espaço, haja vida para curtir tudo isso.
Feirinha de Artesanato da Benedito Calixto. Precisa falar mais alguma coisa? Chorinho no ar e zilhões de enfeites, antiguidades, cacarecos mil.
E a Teodoro?
E a Fradique com a Teodoro?
Café Expresso, banca de jornal, cervejinha no sábado, vendo um jogo capenga da Seleção, com toda a Velha Guarda de Pinheiros xingando, em mil sotaques!
Sobe ladeira, desce ladeira, cadê a loja que tava aqui? Que barzinho é esse no lugar? Livraria, lavanderia, padaria. Vila Madalena das Mil Maravilhas.
E o Largo de Pinheiros continua sujo. E continua feio. E continua caminho, passagem, parada, seja para a Faria Lima, para a Eusébio, para Osasco, para onde fôr.
Pizzas magras, pães de queijo gordos, jornal de domingo comprado no sábado à noite.
Falando em noite; e a barulheira? É sirene de bombeiro, de polícia, é ambulância. É recapeamento de asfalto, é festinha de aniversário, com pais bêbados e crianças gritando.
É assalto?
E durante o dia, no feriado prolongado? Parece meio fim-dos-tempos. Silêncio. Pouca gente. Que até se cumprimenta, veja só.
Da chuva nem vou falar. Melhor não.
Hora de ir embora, tomar um táxi. E aquela conversa fiaaada, que não acaba mais. A Marginal parada e o time está uma merda, político é tudo ladrão, e sim, senhor, não nasci aqui não. Sou do Norte. Ou do Sul. De Minas, Bahia, e Pantanal. Abro sua porta, sirvo seu jantar, limpo sua rua, atendo seu telefonema. Mereço respeito.
Caras, cores, sotaques, roupas, gestos. Passos rápidos, por toda parte. Sempre. Não há tempo a perder. Muito a se fazer, a se ver, a se viver.
Sem cara definida, ela tem milhões, uma para cada dia do ano, todos os anos. É - clichê dos clichês, você sabe, né?...todo mundo sabe - caótica, confusa, feia, linda, suja, arborizada, lar de muita gente, e amada demais principalmente por quem nasceu lá.
Gente rara, cada vez mais difícil de achar.
Parabéns, querida, amada, saudosa, eterna e transitória.
E me dá licença, que tenho hora, não posso ficar.
Imagem: detalhe da capa da revista sãopaulo, do Grupo Folha.
2 comentários:
valeu a pena esperar. muito bom o seu texto... continuo acompanhando, muito obrigado. quero mais textos assim. este vc precisa publicar, narrar, fazer um documentário, até.
abs
Para falar a verdade, escrevi sem nem pensar; as palavras foram jorrando, de uma vez só. Depois, quando li, achei mesmo que ficou parecendo a narração de um vídeo. Interessante não ter sido só eu quem achou isso.
Anônimo, eu é que agradeço pelas visitas e comentários! :)
Postar um comentário